segunda-feira, 25 de abril de 2011

Três “pecados” de Frei Betto

Frei Betto, talvez tenha sido uma das pessoas junto com Boff, que mais tenham influenciado minha militância e meu comprometimento político com o Partido dos Trabalhadores que durou até 2006, quando no limite, desisti de lutar para que retornasse a seus princípios e fundamentos. No entanto, meu distanciamento e desencantamento partidário nunca me impediram de ver as diferenças capitais entre os projetos políticos existentes, exigindo que a crítica pudesse ser colocada como avanço e jamais como argumento para engrossar discursos de conservadores. Exatamente isso me causou estranheza no discurso de Frei Betto cuja história de vida se entrelaça com a história política e religiosa brasileira. Neste último aspecto, por instituir uma reflexão crítica na Igreja Católica, inspirada em Medellín (1968) e Puebla (1979): os documentos Justiça, a Paz e a Pobreza da Igreja e a opção preferencial pelos pobres, respectivamente, fundamentos na Teologia da Libertação.  Uma teologia que foi responsável pela minha formação e militância política e religiosa.
Assim em seu discurso de crítica ao Governo Lula, percebo que Frei Betto comete três pecados. Não no sentido religioso do termo, como desobediência a Deus. O pecado aqui significa em hebraico (hhatá) ou em grego ( hamartáno) simplesmente “errar”. Não atinge um alvo ideal. Um desperdício de oportunidade.
O primeiro pecado de Frei Betto refere-se ao comentário de que 500 mulheres nordestinas realizaram um curso para trabalhar em uma empresa, mas como perderiam o benefício “bolsa família” não optaram pelo emprego. A afirmação é no mínimo sem propósito e improvável. Seu erro é focar no bolsa família seu  desencantamento com o governo Lula, que também compartilho. Mas não se pode desconsiderar: a) trata-se do maior programa de política de renda do mundo, frente a um processo histórico de exclusão social e que altera positivamente as  economias locais; b) mulheres beneficiadas pelo  programa (sobretudo no nordeste) dedicam os recursos às unidades de produção e na formação de seus filhos. Trabalhar com carteira assinada pode não ser a melhor opção para mulheres que são chefes de família, sozinhas criam seus filhos, seja pela migração de seus esposos (trabalham em condições desumanas no corte de cana), ou pelo abandono; c) tomar como exemplo as famílias rurais nordestinas reforça preconceitos, desconsiderando que os grandes centros urbanos no centro-sul são beneficiados pelo programa.
O segundo erro foi associar voto facultativo a imposto facultativo. O voto facultativo frente a despolitização da sociedade tenderia ainda mais à comercialização desse direito. Imposto facultativo ampliaria o caráter regressivo da política tributária, que atinge as classes mais pobres. Classes que precisam de um Estado forte, que regule, coordene e  imprima políticas de desenvolvimento. Combater a sonegação deveria ser o discurso e reclamar de uma estrutura que permite a  sonegação pelos grandes proprietários rurais e empresários, como demonstrei no primeiro Fórum. Com menor arrecadação tem-se um Estado mais enfraquecido o  que significa perda de benefícios sociais. Imposto facultativo é transformar  sonegação em legalidade.
Frei Betto, realiza seu terceiro pecado ao não dar importância aos meios alternativos de informação. Blogs, sítes, e-mails. Embora tenha coisas ruins da internet, trata-se de espaço livre de informações contra a grande mídia, que cada vez mais demonstra seu poder de dominação e de fazer a população consumir programas de péssima qualidade, sem conteúdo ético, sem valores solidários, sem capacidade de fomentar a reflexão. Do Big brother ao “Amor e sexo, estamos “No limite” de uma sociedade imbecilizada, em que a “zorra” se revela na “total“ manipulação pelos meios tradicionais de informação. Uma mídia que não responde à função social da informação como concessão pública. Ao contrário, os meios alternativos têm atendido a necessidade de discussão e crítica e, se representaram importância na eleição de Obama, nos EUA, em nosso país é fonte diferenciada de (in)formação.
São esses os pecados de Frei Betto, por não olhar para além de sua mágoa, perde a oportunidade de refletir temas que nossa sociedade vive: a impunidade, a corrupção em todos os níveis dos poderes públicos, a ética, a transparência na gestão pública, a reforma do judiciário.  
Mas nem tudo foi erro. A grande contribuição do Frei foi dizer à nossa comunidade que quanto mais temos nojo da política mais somos governados por aqueles que não têm.
Aliás, eles não têm nojo desse prato, e não param de emporcalhar a vida pública com corrupção, com arrogância dissimulada em “philantropia” e malversação dos recursos públicos. Ore! Pois devoram tudo que encontram pela frente. Mas não basta orar, rezar, já ensinava o bom dominicano,  Frei Betto: “é preciso ver, julgar e agir”.

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