sábado, 25 de outubro de 2014

MAIS DO QUE A CORRUPÇÃO O PAPEL DO ESTADO

(Tá certo) Não vamos discutir o moralismo da corrupção... pq nada disso tem importância ... O passo do Aécio é tão profundo em lama que não justificaria a oposição à Dilma... A questão é o projeto de país... e o que se perde em capacidade de respostas econômicas e sociais com o Projeto Privatista e entreguista de Aécio... Ando pela Europa e este modelo está mais do que falido, nos EUA as condições sociais e econômicas da população e dos direitos estão cada vez mais em risco... Os Europeus me perguntam. Professor por que o Brasil responde com taxas de crescimento ? Porque ainda tem Estado e capacidade de decidir autonomamente sua trajetória. Vcs abandonaram o Estado, no Brasil a sociedade e sobretudo as classes mais pobres descobriram que o Estado não é e Não pode ser um reduto dos privilegiados abastados... Digo sempre que o que se tem no Brasil é um processo de antiteticidade das instâncias sociais, em que as disputas por políticas públicas são reveladoras do papel do Estado na economia e nossa capacidade de respostas em políticas de renda, fiscais, tributárias e até mesmo cambiais... Explico sempre: Vcs abandonaram o Estado, nós disputamos... e é isso que parte da elite brasileira não aceita (elite mesmo, não falo de quem quer se pensar elite e não ganha mais que R$ 5 mil) e não compreende... mesmo aquelas pessoas que já se beneficiaram dela.... Desde conjuntos habitacionais.... financiamento para estudantes de Universidades Privadas (FIES que beneficia muitas pessoas, veja as taxas de juros praticadas por estes programas no período de FHC, vc vai chorar, Pró-UNI) Ampliação do Ensino Superior Público.. Infraestrutura... entre outras iniciativas que fazem do Brasil e da América Latina palco de mudanças sociais profundas... e com tudo isso territórios de maior capacidade de desenvolvimento e tx de retorno do mundo... sem ser como antes, no período de FHC e sua vertente de mercado, apenas e, miseravelmente, monetarista. 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A IGREJA E SUA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES E A ELEIÇÃO

Neste processo eleitoral muitas coisas estão em jogo. Não se trata apenas de uma lógica financista de grupos que apoiam Aécio Neves, bem todos os interesses privatistas (sobre a Petrobrás, os Bancos Públicos - Caixa, BNDES e Banco do Brasil, entre outros) que se colocam no calor do valor das empresas brasileiras vis a vis a capacidade de lucro e taxa de retorno que elas apresentam em patamares sem igual referência em todo o mundo, e que coteja com os territórios latinoamericanos, africanos e dos BRICs,  ou seja, na pobreza está a riqueza possível de um mundo financista que coloca milhares de europeus e norteamericanos no desemprego e na miséria. Para além desses processos existe um sentido humano, o sentido de inclusão social. O sentido de reverter a condição de miséria e abandono que muitos brasileiros estiveram e estão sujeitos ao longo de anos.
Este é o sentido primeiro desta eleição. Os discursos moralistas de corrupção deveriam pairar somente na seguinte pergunta: Qual denúncia recaiu sobre Dilma ? Uma mulher com sua fibra e luta na ditadura não se curvou ao (deus) dinheiro... e tem permitido como nunca a descoberta de coisas erradas, desde seu partido aos demais (que não investigados, propagandeados e punidos com a mesma intensidade como os de seu partido... porque o judiciário brasileiro tem uma origem de classe. Articulem os sobrenomes e verão tios, sobrinhos, primos, sócios, parceiros,  dos mais deslavados fenômenos de corrupção que se vinculam aos ricos neste país).
Mas nada disso tem importância e se trata de pura hipocrisia o discurso de alternância de poder, mais democracia, quando uma imprensa manipula, desinforma e corrompe na mesma medida que todos e ergue o dedo (veja a falta de educação de Willian Bonner à Presidenta da República), como se não tivesse nenhuma responsabilidade sobre as atrocidades que se erguem no território brasileiro.
Pergunte à Patrícia Poeta qual o sócio/parceiro de seu esposo (?) Carlinhos Cachoeira... portanto as pessoas estão imbricadas e se apresentam à sociedade como inocentes e dedicadas à moralidade.
Mas, nada disso tem importância quando pessoas humildes estão excluídas e ao longo dos anos esse efetivo povo de Deus mudou sua realidade... A Igreja Católica tem um papel fundamental nisso, porque por anos e anos combateu e denunciou a miséria e colocou-se a serviço desse povo (Povo de Deus) como uma opção clara e bela. Evangelizar na pobreza é resgatar pessoas desta mesma pobreza. É isso que se coloca como patamar... com importância,  o olhar aos pobres, o comprometimento com quem sofre e a cobrança indistinta sobre os responsáveis por este sofrimento.  Não preciso sequer olhar os desvios éticos de Aécio Neves... quando meu olhar deve estar para os que realmente precisam.
Este é o pedido de Deus... este é  olhar de Deus em nosso coração. Posso dizer apenas que:
eu, sou um grande pecador, não sou um homem santo e tenho em mim a vergonha de meus atos.
Mas, em meu coração a voz de Deus se manifestou em Medellin e Puebla. Quando os bispos em oração atentaram para o fenômeno da desigualdade e da injustiça na América Latina, que gera uma situação de “pobreza desumana em que vivem milhões de latino-americanos”, fato visto como “escândalo e contradição com o ser cristão”. Os Bispos disseram que era preciso responder aos imensos desafios à evangelização, que busca promover o encontro com Cristo para transformar um contexto de marginalização, desrespeito aos direitos humanos, subversão dos valores culturais, desagregação familiar e dos demais valores cristãos, os bispos pediram para vermos o rosto concreto do povo peregrino que sofre. As feições das crianças, “golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer”; dos jovens “desorientados por não encontrarem seu lugar na sociedade”; dos indígenas e afro-americanos “segregados”; dos camponeses, submetidos à exploração; dos operários, “que têm dificuldades em defender os próprios direitos”; dos desempregados; dos marginalizados e amontoados nas grandes cidades; dos anciãos, “postos à margem” por uma sociedade “que prescinde das pessoas que não produzem”. Paz e Bem !!! (Meu silêncio... minha oração... pelos pobres...).

segunda-feira, 25 de abril de 2011

OS BRICs - Nova Ordem ??

Artigo de Celso Amorim em Carta Capital

Ser radical é tomar as coisas


Celso Amorim

 Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.

O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.


Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.

No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China.

E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.


Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem.
Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.

Três “pecados” de Frei Betto

Frei Betto, talvez tenha sido uma das pessoas junto com Boff, que mais tenham influenciado minha militância e meu comprometimento político com o Partido dos Trabalhadores que durou até 2006, quando no limite, desisti de lutar para que retornasse a seus princípios e fundamentos. No entanto, meu distanciamento e desencantamento partidário nunca me impediram de ver as diferenças capitais entre os projetos políticos existentes, exigindo que a crítica pudesse ser colocada como avanço e jamais como argumento para engrossar discursos de conservadores. Exatamente isso me causou estranheza no discurso de Frei Betto cuja história de vida se entrelaça com a história política e religiosa brasileira. Neste último aspecto, por instituir uma reflexão crítica na Igreja Católica, inspirada em Medellín (1968) e Puebla (1979): os documentos Justiça, a Paz e a Pobreza da Igreja e a opção preferencial pelos pobres, respectivamente, fundamentos na Teologia da Libertação.  Uma teologia que foi responsável pela minha formação e militância política e religiosa.
Assim em seu discurso de crítica ao Governo Lula, percebo que Frei Betto comete três pecados. Não no sentido religioso do termo, como desobediência a Deus. O pecado aqui significa em hebraico (hhatá) ou em grego ( hamartáno) simplesmente “errar”. Não atinge um alvo ideal. Um desperdício de oportunidade.
O primeiro pecado de Frei Betto refere-se ao comentário de que 500 mulheres nordestinas realizaram um curso para trabalhar em uma empresa, mas como perderiam o benefício “bolsa família” não optaram pelo emprego. A afirmação é no mínimo sem propósito e improvável. Seu erro é focar no bolsa família seu  desencantamento com o governo Lula, que também compartilho. Mas não se pode desconsiderar: a) trata-se do maior programa de política de renda do mundo, frente a um processo histórico de exclusão social e que altera positivamente as  economias locais; b) mulheres beneficiadas pelo  programa (sobretudo no nordeste) dedicam os recursos às unidades de produção e na formação de seus filhos. Trabalhar com carteira assinada pode não ser a melhor opção para mulheres que são chefes de família, sozinhas criam seus filhos, seja pela migração de seus esposos (trabalham em condições desumanas no corte de cana), ou pelo abandono; c) tomar como exemplo as famílias rurais nordestinas reforça preconceitos, desconsiderando que os grandes centros urbanos no centro-sul são beneficiados pelo programa.
O segundo erro foi associar voto facultativo a imposto facultativo. O voto facultativo frente a despolitização da sociedade tenderia ainda mais à comercialização desse direito. Imposto facultativo ampliaria o caráter regressivo da política tributária, que atinge as classes mais pobres. Classes que precisam de um Estado forte, que regule, coordene e  imprima políticas de desenvolvimento. Combater a sonegação deveria ser o discurso e reclamar de uma estrutura que permite a  sonegação pelos grandes proprietários rurais e empresários, como demonstrei no primeiro Fórum. Com menor arrecadação tem-se um Estado mais enfraquecido o  que significa perda de benefícios sociais. Imposto facultativo é transformar  sonegação em legalidade.
Frei Betto, realiza seu terceiro pecado ao não dar importância aos meios alternativos de informação. Blogs, sítes, e-mails. Embora tenha coisas ruins da internet, trata-se de espaço livre de informações contra a grande mídia, que cada vez mais demonstra seu poder de dominação e de fazer a população consumir programas de péssima qualidade, sem conteúdo ético, sem valores solidários, sem capacidade de fomentar a reflexão. Do Big brother ao “Amor e sexo, estamos “No limite” de uma sociedade imbecilizada, em que a “zorra” se revela na “total“ manipulação pelos meios tradicionais de informação. Uma mídia que não responde à função social da informação como concessão pública. Ao contrário, os meios alternativos têm atendido a necessidade de discussão e crítica e, se representaram importância na eleição de Obama, nos EUA, em nosso país é fonte diferenciada de (in)formação.
São esses os pecados de Frei Betto, por não olhar para além de sua mágoa, perde a oportunidade de refletir temas que nossa sociedade vive: a impunidade, a corrupção em todos os níveis dos poderes públicos, a ética, a transparência na gestão pública, a reforma do judiciário.  
Mas nem tudo foi erro. A grande contribuição do Frei foi dizer à nossa comunidade que quanto mais temos nojo da política mais somos governados por aqueles que não têm.
Aliás, eles não têm nojo desse prato, e não param de emporcalhar a vida pública com corrupção, com arrogância dissimulada em “philantropia” e malversação dos recursos públicos. Ore! Pois devoram tudo que encontram pela frente. Mas não basta orar, rezar, já ensinava o bom dominicano,  Frei Betto: “é preciso ver, julgar e agir”.

A DIMENSÃO SOCIAL E POLÍTICA DO CONHECIMENTO

            A perspectiva de entendimento da dimensão social e política do conhecimento se estabelece a partir de um ponto central: a inexistência de um saber desinteressado.
            Tal dimensão confere uma leitura sobre o posicionamento dos intelectuais frente à vida e o contingente e em que medida o suposto isolamento dos intelectuais não se configura em um elemento ideológico que quer fundamentar sua produção como desinteressada e, por sua vez, ela mesmo como não ideológica.
            A centralidade do desinteresse se põe sob crítica imediata nos apontamentos aristotélicos quando da classificação e níveis e etapas do conhecimento. Ao considerar conhecimentos teóricos e práticos e ao definir etapas da sensação à reflexão pura, e identificar fases intermediárias e, dentre elas a linguagem, posicionam claramente o filósofo sua oposição aos sofistas. Para estes a opinião portanto, a linguagem, tem um papel importante no conhecimento, negada por Aristóteles. Como papel intermediário, trata-se de um conhecimento parcial, limitado, cuja trajetória se coloca de maneira incerta ou insuficiente.
            Evidencia este processo os embates políticos em que se envolviam nas assembléias e denota a clara intencionalidade aristotélica em sua classificação.
            Assim reconhecida a dimensão do interesse cabe refletir sobre os limites e formas de pensar o intelectual em seu envolvimento com as questões da vida e do contingente, pensado aqui como cotidiano, reconhecendo tratar-se de duas perspectivas com características distintas.
            De certa forma e com alguma prudência sobre estes elementos é que se instaura uma visão sobre o papel dos intelectuais e a sociedade.

Os intelectuais como categoria social.
            Pensar os intelectuais como categoria social distinta, remete-nos às considerações de Julien Benda (A traição dos clérigos) em que reconhece a atividade dos intelectuais sobre o cotidiano e a vida, mas requer que os mesmos se pautem por um isolamento, sob pena de desviarem-se de seu papel reflexivo e especulativo sobre o mundo, desviando-se de uma trajetória quase que límpida do saber.
            Não são diferentes as considerações de Mannhein, apontadas por Goldman, em que o filósofo alemão em Ideologia e Utopia defende uma tarefa particular dos intelectuais na construção de um consenso frente aos embates sociais e políticos, sem que se posicione, mas figure como classe ou categoria social isolada, em suas palavras: “livre flutuante”.
            De maneira similar Ortega y Gasset, chama a atenção dos intelectuais para um papel fundamental, vinculado à questão educacional em Espanha, qual seja de serem educadores das massas. Uma perspectiva de articulação do intelectual à sociedade também defendido por Benedetto Crace, para o qual os intelectuais são depositários de uma cultura social que deve ser consolidada socialmente e politicamente, apontando diretrizes à sociedade.
            Nas perspectivas acima, ou existe um apelo ao isolamento ou ao engajamento social, doutrinário e messiânico, por assim dizer, mas que revelam uma idéia de negação de vida e cotidianidade social, materialidades concretas.
            Em Benda, por ver um caráter hedonista na vida comum e uma posição agnóstica em relação ao cotidiano, em sua visão à política. Em Mannhein, uma perspectiva idealista ao posicionar os intelectuais como categoria social distante de uma perspectiva de classes e conflitos também vividos por tal categoria. Em Ortega e Crace, por uma visão liberal de Estado e de cultura, respectivamente considerado, sobretudo para este último por sua trajetória partidária.
            Estes elementos, portanto, colocam de imediato fatores de negação à articulação por intelectuais ou de um nobre papel destes sujeitos sociais, com uma perspectiva de caráter platônico, literalmente reveladora do ícone da caverna. Os intelectuais como luzes, para uma sociedade que ou se encontra nos impasses dos conflitos sociais que ela determina social e historicamente, ou seus rumos para qual necessariamente, existe uma categoria social isenta, sejam dos pecados, para a pureza clériga, ou dos interesses para o alicerçamento de uma certa teleologia.
            Estes processos exigem considerações sobre o efetivo engajamento dos intelectuais à vida e à cotidianidade.

A intelligentsia – independência ou organicidade.
            Uma outra perspectiva deve ser empreendida, a de que os homens estão inseridos em uma espacialidade concreta. Os intelectuais disputam posições, tal como delineia a classificação aristotélica, disputam posições em um campo de lutas em uma espacialidade, como também define Bourdieau. Esse processo faz emergir um sentido preciso no conteúdo e na forma de produzir ciência e de se posicionar frente ao mundo o que destitui qualquer possibilidade de isolamento ou de uma possibilidade de antever (saídas?) sem protagonizar nova realidade social. Delimitando o que nos anos 50 e 60 do século passado se denominou de visão social de mundo, posição de classe.
            Esse processo faz reconhecer a impossibilidade de uma produção do conhecimento que não carregue o devir, uma dimensão de classe e um posicionamento político. Se for possível delimitar, neste caso estas questões não se figuram como tautologia.
            Este quadro teórico e metodológico resulta pois, em reconhecer sua unidade com o ideológico e faz sucumbir a perspectiva “insípida” e “inodora” do saber desinteressado, que protagoniza sem dizer o que faz, que educa nossa consciência sem a clareza ou a denúncia da intencionalidade e que se vincula ao poder e ao controle.
            Trata-se da amálgama dos poderes contemporâneos: o político pela opressão e poder suicidas; o poder econômico pela força e chantagem dos capitais e o ideológico como amálgama que reafirma uma lógica de existência no mundo.
            Uma intelectualidade, um saber homogêneo que se apresenta como mito, a racionalidade em si e se instaura como “expertise”. Os “expertos” como afirma Chonsky, traduzem o desconhecido, vivido cotidianamente, revela o óbvio e sintetiza a passividade social.
            Não é por acaso que os “expertos” cerram fileiras à frente de grupos de interesse, filiam sua notoriedade acadêmica a projetos de Estado, por interesse de classe ou cooptação reafirmam teses neoliberais e o capital, como modo de ser, em negação ao trabalho em sua inexorável trajetória.
            Carregam em si um elemento tecnicista, “técnicos do saber” como afirma Sartre, que consolidam comportamentos e visões sociais de mundo. Em Bourdier um cinismo tácito (Contra Fogos).
            De outra forma, de tradição gramsciana, depara-se com a mesma tese embora com demonstração clara identidade de caráter orgânico. Neste caso a intelligentsia se estrutura para forjar os instrumentos de luta capazes de estabelecer uma nova ordem social e revolucionária. O intelectual orgânico se posiciona como organizador de uma cultura transformadora e a produção e de todo militante.
            Nesse caso a principal contribuição deste pensamento se estrutura assim como Lukács, na idéia de movimento e contradição (a antiteticidade das estruturas sociais para George Lukács) que envolve Estado e Sociedade Civil, posicionando os trabalhadores como classe a ser preparada, como intelectuais, o que resgata uma concepção marxista de uma classe com clareza histórica e teórica de seu papel social, a romper com a onipresença do Leviatã.
            Embora a crítica estabelecida acerca dessa trajetória histórico-teórica se remeta ao socialismo real, cabe refletir que para o nosso propósito os intelectuais não se revestem de independência, mas de uma organicidade cujo vínculo partidário, exige uma reflexão sobre o caráter de criticidade e autonomia frente ao contingente.

Contingente – Ser e Dever Ser.
            As reflexões apontadas denotam a impossibilidade de neutralidade sobre o conhecimento e seus usos. Denotam ainda uma dimensão prática do intelectual, o que exige reconhecer sua inserção em uma divisão social e técnica do trabalho.
            O propósito em evidenciar este processo  decorre mais do que a revelação de seu vínculo de classe, mas sobretudo da tomada de consciência de sua existência. Talvez este propósito seja nulo para o cientista social, mas ele não se estabelece para outros cientistas/intelectuais para os quais perdura, para além da cooptação e da mercantilização do conhecimento, da produção em si, portanto da dimensão da vida destes sujeitos, mas sim no plano cotidiano que se depara imediatamente com o poder ideológico, as noções de “desenvolvimento e contribuição social da pesquisa”.
            É neste processo que figuram duas questões reveladoras de dimensão social e política do conhecimento: a prática e a ética.
            Na dimensão prática encontra-se literalmente a vida, no sentido proposto por H. Lefebvre, que se vincula a uma ciência de resultado, que impossibilita a crítica e se desarticula, se fragmenta frente ao cotidiano.
            A lógica de filiação aos mandarinatos científicos e à lógica do brilho e do reconhecimento midiático, a lógica do produtivismo, embora tenham ressonância cotidiana, voltam para si como reflexo do real, numa perspectiva mecânica, narciso do espelhismo impede de visualizar-se como trabalhador, como classe, portador de uma lógica de acumulação e protagonizados da destruição da vida e do futuro.
            A subsunção do trabalho intelectual não se estabelece pelos modismos e pelas lógicas de financiamento público e privado, mas pela apropriação e reprodução ampliada de forma privada (mesmo em instituições públicas) do conhecimento e da sua extenuação produtivista.
            No plano do cotidiano o sujeito pesquisador é o “experto”, se realiza nos minutos midiáticos e nas recompensas das diferenciações sociais dos sujeitos pesquisadores. Na mercantilização do seu conhecimento a privatização e a consolidação de sua inserção no plano das classes, sem precisar qual capacidade perceptiva deste processo.
            Neste caso é que se faz necessário romper com a dimensão prática e estabelecer o plano ético. Romper com o plano do ser, da vida em si, em seu cotidiano fetichizado que o posiciona sem dever, ou sem devir é acrítico, porque não claramente teleológico (sem consciência?).
            A perspectiva ou plano ético, ou deontológico no pleno sentido do que se deve ser, retorna o elemento da crítica, inexistentes nos mandarinatos científicos, e exige tomada de consciência acerca do conhecimento e seu rebatimento sobre o cotidiano, a vida pública e política do ser social.
            Inaugurar a dimensão ética junto aos intelectuais é exigir novo comportamento, que não nega seu protagonismo, mas não se coloca como vanguarda, que reconhece uma posição de classe e os efeitos de seu pensar e a materialidade de conhecimento. Apresenta para si uma tarefa singular, embora não seja simples de revelar contradições, e pautar as trajetórias do possível, para a crítica e a reflexão conjunta; não se trata do caminhar seguro.
            Trata-se apenas do caminhar, para além do imediatismo do interesse, busca que o outro seja também portador do futuro caminhar, caminhar não somente como um método, mas como síntese de vida e cotidiano, com claro sentido do devir, compreendendo o contingente, mas não o projetando como sentido único do fazer ou como lógico do possível.


Convite à construção de uma espaço de sociabilidade

A principal motivação deste Blog concentra-se na possibilidade de estabelecer um canal diálogo sobre as transformações vivenciadas pelo mundo moderno. Neste aspecto, trata-se inicialmente de uma forma de apresentar alguns referenciais interpretativos acerca da vida comum, da vida política, da vida acadêmica, considerando-os elementos inseparáveis, regidos por uma ética que não se faz particular se faz pública. Significa dizer que não existe um padrão ético que não esteja referenciado no outro, no conjunto da sociedade.
Um canal de diálogo que objetive apontar reflexões  sobre os embates que sociedade vive na consolidação de territórios livres dos canais de opressão e que seja aqui um território em que o saber geográfico,  possa estar a serviço desta consolidação.
Desta forma, como esse processo só pode ser pensado de forma coletiva e você está convidado a construir este espaço de sociabilidade encaminhando matérias, comentários, fotos que nos permitam refletir e avançar na construção do socialismo.